Alcolumbre pode servir à transição para um Senado conservador
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A Presidência de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) no Senado e, sobretudo, detalhes não revelados de acordos que ele firmou com a direita para voltar a comandar a Casa no biênio 2025-2026, poderão servir à transição para o período seguinte, com a perspectiva de um plenário de viés conservador.
A principal razão disso é que a oposição e o próprio Alcolumbre calculam que uma maioria direitista entre os 81 senadores pode ser formada a partir de 2027. Dois terços das vagas no Senado serão renovadas nas próximas eleições.
Sabe-se nos bastidores que suas negociações para retomar a chefia do Congresso consideraram a tendência geral do cenário político, em favor do centro e da direita. Nesse cenário, a escolha de Eduardo Gomes (PL-TO) como vice-presidente adveio, por exemplo, de acertos com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados, para garantir à oposição postos de decisão.
Especialistas veem gestos de Alcolumbre para manter seu poder após 2027
Para especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, palavras de Alcolumbre em favor de um Legislativo independente acenam à oposição e ainda indicam cenários futuros desfavoráveis ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Por trás de tudo está o desejo do presidente do Senado de manter poder após sua atual gestão, se adequando a mudanças e cooperando com uma transição.
Senadores e analistas destacam o fato de terem circulado, mesmo que em tom de brincadeira, menções a uma provável reeleição de Alcolumbre em 2027, apesar da chegada de muitos novos senadores à Casa naquele ano, para ocupar vagas, dentre as 54 que serão abertas.
A família Bolsonaro e os seus aliados apostam numa maioria conservadora do Senado em 2027 para viabilizar a abertura de processos de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), de modo a cessar a perseguição aos políticos de direita e reequilibrar os poderes da República.
Discurso pela autonomia do Senado atende à maior demanda da oposição
A ampla coalizão de partidos que elegeu Alcolumbre – do PT de Lula ao PL de Bolsonaro –, consolida a hegemonia de políticos do Norte e do Nordeste no Senado e aprofunda o domínio de partidos de centro. Com 73 votos, apenas três a menos do obtido por José Sarney (MDB), o mais poderoso ex-presidente da Casa, Alcolumbre revela seu apetite por continuidade.
Segundo ele, democracia forte depende de “Congresso livre”, “Parlamento firme” e um “Senado soberano e independente”. Esses termos se casam inteiramente com a principal demanda da oposição. Dentro do campo da direita, contudo, o apoio a Alcolumbre gerou fortes discussões internas e candidaturas de protesto. Depois de eleito, sua postura contra a anistia de condenados do 8 de Janeiro também foi criticada.
Pragmatismo de Alcolumbre pode ajudar o seu projeto de continuidade
Leandro Gabiati, diretor da consultoria política Dominium, não tem dúvidas de que Alcolumbre continuará tendo atuação política pautada pelo absoluto pragmatismo. “Ele manterá o diálogo aberto com o governo enquanto conversa com a oposição”, aposta.
Mas o cientista político sugere cautela quanto à perspectiva de maioria conservadora no Senado após as eleições de 2026. “É preciso aguardar. A polarização será uma constante, mas partidos de centro, como MDB e PSD, tendem a crescer”, observa.
Em paralelo, Alcolumbre deve manter o governo sob pressão, usando um espaço ocupado até o ano passado pelo então presidente da Câmara, Arthur Lira (PL-AL). O perfil do novo presidente da Câmara, Hugo Mota (Republicanos), é mais parecido com o do ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG), porém tem se mostrado mais independente.
Decadência da esquerda conduz Alcolumbre no rumo da direita ou do centro
O cientista político Ismael Almeida acredita que os rumores sobre o acordo entre PL e Alcolumbre envolver a renovação do apoio partidário a ele na próxima eleição para a Presidência do Senado, em 2027, fazem sentido diante do desgaste da esquerda.
Segundo o especialista, a incapacidade de o PT de apresentar nomes alternativos para disputas nacionais – evidenciada pelo afastamento de aliados como Paulinho da Força, do Solidariedade, e pelo provável racha com o PSol –, favorece a direita. Alcolumbre sabe disso. “Ele nem precisa fazer uma guinada. Será levado naturalmente pela onda que está arrastando todo o establishment político para a direita”, conclui.
Luiz Filipe Freitas, coordenador de relações governamentais do escritório Malta Advogados, avalia que Alcolumbre já projeta sua gestão à frente ao Senado com um horizonte de quatro anos, na qual exercerá sua característica principal de negociador, seja lá qual for o espectro ideológico do Executivo.
Ele adverte que a tendência conservadora para o Senado deixou de ser absoluta após os resultados das eleições municipais de 2024, que exibiram viés centrista. “Podemos ver surpresas, com a vitória nos estados de duplas de candidatos de direita e centro, apesar da estratégia dos Bolsonaro”, diz. Ele se refere ao projeto do PL de tentar eleger dois senadores por estado em 2026.
[Gazeta do Povo]
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