O setor de serviços na Paraíba cresceu 9,8% em novembro de 2024, superando a média nacional de 2,9%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta foi puxada pelo segmento de informação e comunicação, impulsionado por telecomunicações, desenvolvimento de softwares e consultoria em Tecnologia da Informação.

Apesar do crescimento, a participação feminina na área ainda é bastante reduzida. Apenas 39% dos profissionais do setor são mulheres, segundo a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom). O ritmo de inserção feminina, porém, tem avançado 1,5% mais rápido que o dos homens nos últimos três anos.

Mudança de rota: da estabilidade à programação

Aos 28 anos, Tatiana Morais personifica esse avanço. Formada em Direito pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), com aprovação na OAB e em três concursos públicos – incluindo a Prefeitura de Cabedelo e a Polícia Civil do do Rio Grande do Norte –, a rotina do serviço público a levou a ter crises de saúde. A saída veio em 2023, quando descobriu na tecnologia uma nova alternativa.

A estabilidade do serviço público não trouxe a satisfação que Tatiana esperava. “A experiência do serviço público, no meu dia a dia, não foi aquilo que eu esperava. De uma hora para outra me vi mentalmente adoecida. No feriado de 1º de maio de 2023 eu resolvi, “por diversão”, assistir uma aula de lógica de programação entre os intervalos do estudo pra concurso. Eu me empolguei tanto que depois desse dia nunca mais estudei para concurso nenhum.”, relembra.

Hoje, Tatiana é desenvolvedora full-stack em uma consultoria que presta serviços para uma empresa de telecomunicação. Esposa e mãe de um menino neurodivergente, ela destaca o home office como aliado: “Com disciplina e foco, essas barreiras vão sendo transpassadas e tudo é recompensado pelos benefícios do trabalho na área” .

A transição, no entanto, não foi fácil. “Ouvi de muitas pessoas que eu estava enlouquecendo por trocar a estabilidade para ir trabalhar em empresas privadas.”, relata.

Apesar das dúvidas, ela conta que o apoio da família foi fundamental. “Escolhi ir para o serviço privado, mas permanecer na Paraíba, com minha família, no lugar que eu amo, fazendo o que eu amo. Sou muito grata pela escolha que fiz.”

Educação técnica tenta reter talentos femininos

Ainda que os números mostrem avanços, os desafios persistem. A porcentagem de mulheres que se formam em cursos de ciências, tecnologia, engenharia e matemática caiu quase pela metade desde a pandemia.

Em 2019, 53% das mulheres que ingressaram nessas áreas concluíram a formação. Em 2023, esse número caiu para 27%. Os dados são da Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados.

No Instituto Federal da Paraíba (IFPB), a professora de Sistemas para Internet Valéria Maciel observa mudanças lentas. “Atualmente, leciono para 99 alunos regularmente matriculados em duas disciplinas da graduação, dos quais apenas 16% são mulheres. ”, explica.

Para reverter o cenário, o IFPB criou iniciativas como o Code Girl, competição exclusiva para alunas de programação que, neste ano, será sediado no ‘’Mulher Tech Sim Senhor’’, maior evento de encontro de mulheres em tecnologia do Brasil.

A mestranda em Informática no IFPB, Bianca Oliveira, ilustra o impacto dessas políticas.

Medalhista em competições como a Maratona Feminina de Programação da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), Bianca chegou ao top 10 da América Latina em 2024.

“Para mim, é uma enorme felicidade poder representar minha instituição, além de apoiar outras mulheres que trilham o mesmo caminho”, afirma.

Onde estão as oportunidades?

Segundo Valéria, UI/UX (Interface e Experiência do Usuário), Marketing Digital e Ciência de Dados são as áreas que mais atraem mulheres.

Além disso, o governo federal projeta cerca de 797 mil postos em TI até 2025. A área de tecnologia gera, em média, 150 mil empregos por ano no Brasil.