A participação do governo Lula no PIB parece gol de mão

O PIB do Brasil, em 2024, segundo ano do governo Lula, cresceu 3,4%, o melhor resultado desde o 2021 da imediata pós-pandemia, quando a alta foi de 4,8%, divulgou o IBGE, aquele instituto em vertigem desde que o diligente Marcio Pochmann assumiu a presidência.
Viva, salve, ainda estamos aqui etc. Mas cresceu e desacelerou no quarto trimestre, com a queda no consumo das famílias, apontando para um 2025 mais difícil. Essa é a versão bem-comportada do noticiário econômico.
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Parêntese. No jornalismo, sinal de porcentagem funciona como repelente de leitor, mas não há o que fazer: de vez em quando, nós nos vemos obrigados a abordar assuntos matemáticos. Fecha parêntese. Persista, por favor.
Depois da leitura da notícia, fui espiar a imprensa americana — e eis que há uma notícia sobre Produto Interno Bruto por lá. Donald Trump quer mudar a forma de calcular o PIB e o crescimento econômico.
O secretário de Comércio do governo americano, Howard Lutnick, disse à Fox News que, “historicamente, os governos têm brincado com o PIB. Eles contam as despesas governamentais como parte do PIB. Vamos então, separar as duas partes (o que é governo e o que é mercado) e tornar isso transparente”.
“Se o governo compra um tanque, isso é PIB”, afirmou Lutnick. “Mas pagar mil pessoas para pensar em comprar um tanque não é PIB. Isso é ineficiência, dinheiro desperdiçado.”

A transparência não é o maior interesse de Donald Trump. Com as demissões de dezenas de milhares de funcionários e demais cortes nos gastos do governo que ele está promovendo por meio do DOGE de Elon Musk, o crescimento do PIB dos Estados Unidos pode sofrer desaceleração.
Donald Trump quer, assim, atenuar o eventual efeito negativo da comparação com o PIB sob Joe Biden, mostrando que o crescimento da economia do país na administração do antecessor se deveu, em boa parte, ao empurrão proporcionado pela expansão das despesas governamentais. Feita a observação, volte-se aos números.
Nos Estados Unidos, em 2023, a participação dos gastos do governo no PIB foi de 36%, segundo o Fundo Monetário Internacional; no Brasil, foi de 45%, e essa porcentagem deve estar agora em 47%, por aí, por causa da aposta no Bolsa Família, do aumento das despesas assistenciais e previdenciárias e do salário mínimo acima da inflação.
Aonde quero chegar? Já cheguei: na versão mal-comportada do noticiário econômico. A participação do governo Lula no PIB parece gol de mão, e economia não é handebol.
[Revista Oeste]
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