O Evangelho de Lucas 4,1-13 narra a tentação de Jesus no deserto, um episódio que carrega profundos ensinamentos espirituais e éticos. Ao ser desafiado pelo diabo em três situações distintas, Jesus reafirma seu compromisso com Deus e com a verdade, rejeitando o imediatismo, a sedução do poder e a manipulação da fé. Esses três aspectos são extremamente atuais e podem ser comparados ao contexto político contemporâneo e à atuação dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário).

A Tentação do Pão e a Política Social

A primeira tentação diz respeito à necessidade material. O diabo desafia Jesus a transformar pedra em pão, explorando sua fome após quarenta dias de jejum. A resposta de Jesus – “Não só de pão vive o homem” – ensina que a vida não se resume apenas às necessidades físicas, mas também às espirituais e morais.

No cenário político atual, essa tentação pode ser associada à maneira como governos e líderes utilizam políticas assistencialistas para obter apoio popular. Embora o combate à fome e à pobreza seja fundamental, há um risco quando tais políticas são usadas de forma eleitoreira, priorizando interesses políticos em vez do bem comum. Muitos governantes oferecem “pão” para conquistar votos, sem necessariamente promover mudanças estruturais que garantam justiça social e dignidade a longo prazo.

A Tentação do Poder e a Corrupção Política

Na segunda tentação, o diabo oferece a Jesus todos os reinos do mundo em troca de adoração. Esse episódio simboliza a sedução do poder e a corrupção moral que frequentemente acompanham o desejo de domínio. Jesus, no entanto, rejeita a proposta e reafirma que somente Deus deve ser adorado.

Nos dias atuais, vemos essa tentação refletida na busca desenfreada pelo poder dentro do Executivo e do Legislativo. Políticos, muitas vezes, abrem mão de princípios éticos para alcançar posições mais elevadas, cedendo a esquemas de corrupção, alianças duvidosas e manipulação das massas. A troca de favores, o clientelismo e a perpetuação no poder são exemplos de como essa tentação continua a se manifestar na sociedade.

A Tentação da Manipulação e a Judicialização da Política

Por fim, na terceira tentação, o diabo desafia Jesus a se lançar do alto do templo, usando as Escrituras para justificar o ato e testando a fidelidade de Deus. Jesus responde com firmeza: “Não tentarás o Senhor teu Deus”, rejeitando a ideia de testar Deus para obter vantagem própria.

No contexto atual, essa tentação pode ser comparada à manipulação das leis e do sistema judiciário para atender a interesses políticos. A judicialização excessiva da política, onde decisões que deveriam ser do povo e dos representantes eleitos acabam sendo transferidas para tribunais, pode ser vista como um reflexo dessa tentação. O Judiciário, quando extrapola seus limites e interfere diretamente no jogo político, muitas vezes age como um “tentador”, moldando a realidade conforme interesses específicos e enfraquecendo a democracia.

Conclusão: A Ética de Jesus e o Desafio dos Três Poderes

Jesus, ao resistir às tentações, demonstra que o verdadeiro líder não se deixa seduzir pelo imediatismo, pelo poder corrupto ou pela manipulação da fé. O que vemos no cenário político atual é justamente o contrário: governantes que usam necessidades básicas para manipular eleitores, legisladores que fazem alianças para se manter no poder e magistrados que interpretam leis conforme suas conveniências ideológicas.

O Evangelho nos ensina que a verdadeira liderança deve ser pautada na justiça, na verdade e no serviço ao próximo. Se os Três Poderes se inspirassem na conduta de Jesus, a política seria um instrumento de transformação real, e não um palco para interesses particulares.

Diante desse cenário, cabe a cada cidadão refletir: estamos compactuando com a corrupção e a manipulação, ou estamos buscando líderes que, assim como Cristo, coloquem a ética e o bem comum acima dos interesses pessoais?

Por: Marcelo Negreiros

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