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Patos,17/03/2025

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‘O Brasil de Alexandre de Moraes se esforça para andar para trás’

(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 15 de março de 2025)

Oeste
‘O Brasil de Alexandre de Moraes se esforça para andar para trás’

Talvez tenha sido uma sorte, para todos nós, que quando inventaram o telefone dom Pedro II era o imperador do Brasil. Como se conta na História, as mentes mais civilizadas da época achavam que a invenção de Graham Bell era uma geringonça sem utilidade para nada — mas dom Pedro nunca esteve de acordo com essa avaliação e trouxe para o Brasil, no ato, o que viria a ser uma das maiores conquistas tecnológicas da humanidade. Imaginem se, em vez dele, o imperador fosse o ministro Alexandre de Moraes. Não haveria telefone até hoje no Brasil.

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De lá para cá, em matéria de tecnologia, o Brasil se especializou em correr no pelotão de trás — ali entre o médio e baixo Terceiro Mundo, sem infâmia e sem louvor. Salvo uma e outra coisa, como determinados tipos de avião e de motores elétricos, o resto do mundo nunca se interessou em comprar nada do que o Brasil chegou a produzir nos últimos séculos. Nosso problema, hoje, é o grande esforço nacional em prol de andar para trás. Temos poucos Pedros II. Temos muitos Alexandres de Moraes.

O telefone foi descartado como uma bobagem — mas pelo menos ninguém achava que era perigoso. Não contavam, na época, com a astúcia do ministro Moraes. Se estivesse ativo 150 anos atrás, teria percebido o que ninguém, a começar por dom Pedro II, percebeu. O que parecia uma inocente invenção de professor Pardal acabaria se transformando, no futuro, numa ameaça fatal à democracia.

Os sermões de Alexandre de Moraes

O problema, pelo que se deduz do que o ministro fala o tempo todo em seus sermões, não seria exatamente o telefone. Seria, como sempre, o ser humano e o seu vício incurável de utilizar os frutos do progresso para fins não previstos pelas autoridades — digamos, gente como Moraes. Quer dizer que agora, com essa tal de comunicação à distância, qualquer um vai poder falar o que bem entende, para quem quiser, onde estiver? Não pode.

Pior: a operação disso tudo estaria a cargo de empresas estrangeiras, já pensaram? A qualquer minuto do dia elas poderiam usar o seu controle sobre a rede telefônica para interferir na soberania nacional — e isso aqui não é casa da Maria Joana. Imaginem, então, com os celulares, as redes sociais e os novos equipamentos da Starlink de Elon Musk, que não dependem das antenas de Moraes para manter as pessoas falando entre si.

Não é um caso de progresso, acha o ministro; é um caso de polícia. Comunicação tem de ser monopólio do “Estado”, como imprimir dinheiro e expedir passaporte. Pessoas que “não entendem” a liberdade de expressão não podem continuar mexendo com rede social; isso é hoje, junto com Musk, a maior ameaça para a democracia. Moraes fica doente com essas coisas.




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